terça-feira, 3 de agosto de 2010

Manta verde cobre as águas da represa guarapiranga


Esgoto despejado na Guarapiranga favorece a proliferação de algas que prejudicam a qualidade da água que abastece milhões de paulistanos na zona sul.

Uma massa compacta e extensa de plantas aquáticas e uma espécie de "nata" verde, ou florações de algas, sobre as águas da Represa de Guarapiranga, na zona sul da Capital, são os sinais visíveis de que o local encontra-se em risco de morte e precisa de cuidados urgentes.

O visual chama a atenção por sua beleza. Mas a paisagem é enganadora, já que impede a prática de esportes e lazer aquáticos e torna evidente o desequilíbrio ecológico na represa, um dos principais mananciais da Grande São Paulo.

Especialistas e profissionais em meio ambiente revelam as causas da expansão exagerada e sem equilíbrio das plantas e algas na represa. O fenômeno biológico aparece com intensidade devido ao excesso de nutrientes nas águas, como o fósforo e o nitrogênio, presentes no local por causa do esgoto despejado na Guarapiranga.

Responsável pelo abastecimento de água de quase quatro milhões de pessoas em toda a região sul da Grande São Paulo, inclusive a Capital, a Guarapiranga assiste o seu entorno ser ocupado há anos de forma irregular. Atualmente quase um milhão de pessoas vivem ao redor da represa.
A realidade é que, em volta da Guarapiranga, há clubes, habitações surgidas de loteamentos clandestinos, plantações, empresas ilegais e imperfeições na vegetação. Nada disso deveria ocorrer no local, pois a chuva contribui para o despejo do esgoto e de substâncias químicas dos adubos na represa", diz Célia Leite Santana, pesquisadora do Instituto de Botânica, órgão ligado à Secretaria Estadual do Meio Ambiente.

Organizações não governamentais ligadas ao meio ambiente também se preocupam com a saúde da Guarapiranga. É o caso da Vitae Civilis. "As ações contra os crimes ambientais e as ocupações irregulares e desordenadas têm de continuar a existir na região da Guarapiranga. Mas quando se trata do esgoto despejado na represa, há uma criminalização dos pobres, e nenhuma crítica às empresas e entidades públicas responsáveis pelo tratamento da água e do esgoto", diz Marcelo Cardoso, coordenador executivo da ONG.


Coletores – Cardoso afirma que o problema é mais amplo, "pois muitas casas têm redes de esgoto e água, mas não chegam aos coletores-tronco para serem posteriormente tratados. Assim são despejados em rios da região, depositando-se, por fim, na Guarapiranga", explica o ambientalista.

O efeito desse material orgânico e químico irregular diluído na represa, segundo Célia, provoca o excesso de fósforo e nitrogênio nas águas, fontes alimentadoras das plantas aquáticas e das algas. Essas plantas são chamadas pelos botânicos de macrófitas e, entre as várias espécies, destaca-se na Guarapiranga, neste momento, a alface d'água.

Com o mesmo formato da conhecida alface presente na mesa da população, a alga não possui raiz e é a responsável pela atual formação da massa ou cobertura verde existente na superfície da represa. Embora sejam microscópicas, as algas têm se adensado e tornaram-se visíveis no local.
"As macrófitas e as algas existem em todas as represas. Ficam nas margens e várzeas. Trazem benefícios porque produzem oxigênio por meio da fotossíntese. Assim contribuem para a manutenção da vida aquática", explica Célia.

Porém, quando se reproduzem em excesso, como está acontecendo na Guarapiranga, elas fecham a superfície da água e impedem a entrada do sol e a oxigenação nas águas, explica a pesquisadora. "Há o risco da represa morrer e ter água imprestável, se o atual desequilíbrio ecológico não for resolvido com rapidez", alerta Célia.

"Estamos diante de um ciclo de desequilíbrio ambiental na Guarapiranga. A dimensão da massa de planta chega a sete mil metros quadrados pelas imagens do satélite", afirma José Alberto Ferro, gerente do Departamento de Recursos Hídricos da Região Metropolitana da Sabesp, empresa responsável pelo monitoramento da represa e pela captação da água destinada a milhões de paulistanos.

Tratamento – Segundo ele, apesar do problema, a água bruta captada no local passa por tratamento e, dessa forma, não há risco de chegar contaminada ao destinatário ou ficar imprópria para o consumo humano.

Com oito clubes de iatismo ao redor e muitas marinas, a Guarapiranga já é um tradicional e conhecido centro de formação de velejadores profissionais do País, entre eles Robert Scheidt, bicampeão olímpico e que iniciou sua carreira na zona sul de São Paulo.
O tapete verde de plantas e algas sobre a água cresce com rapidez e de forma assustadora, desde dezembro", diz Marcos Biekarck, coordenador náutico do Yatch Club Santo Amaro, um dos clubes da represa e que possui 320 atletas de iatismo.

Esportes – Segundo ele, a massa de plantas e algas atrapalha ou impede as atividades dos barcos à vela, já que se enrosca nas quilhas existentes nas partes de baixo das embarcações. "Por se prenderem nas plantas, os barcos precisam ser unidos e puxados com a ajuda de uma lancha. Se nada for feito, o esporte e o lazer náuticos vão acabar na Guarapiranga", diz Biekarck.

Segundo Ferro, no dia 15, haverá uma reunião entre as empresas com atuação na represa, como Sabesp, Cetesb, Emae, além de clubes e marinas, para se encontrar a melhor forma de limpar o excesso de plantas e algas sobre as águas. "Não será uma tarefa fácil. A retirada terá de ser manual, com a ajuda de redes. Mas precisa ser feita sem demora", diz Célia.

Por meio do programa Vida Nova-Mananciais, sob coordenação da Secretaria de Saneamento e Energia (SSE) e destinado a recuperar os mananciais da Grande São Paulo, com verba de R$ 1,3 bilhão, a Guarapiranga receberá investimentos para a desocupação de áreas ilegais, urbanização de favelas, coleta e tratamento de esgoto em seu entorno, até 2015.

Um comentário:

  1. Isso que está acontecendo é um tremendo absurdo que não pode ficar sem providências.
    Façam alguma coisa por favor.

    ResponderExcluir